segunda-feira, 4 de julho de 2016

Civilização Brasileira lança livro sobre escravidão no Brasil, no Sul dos Estados Unidos e em Cuba

Imagem: Divulgação

Livro traz ensaios sobre “segunda escravidão” no Sul dos Estados Unidos, no Brasil e em Cuba

Organizada pelos brasileiros Rafael Marquese e Ricardo Salles, obra será lançada em julho pela Civilização Brasileira

Escravidão e capitalismo histórico no século XIX reúne ensaios de historiadores brasileiros e estrangeiros sobre a escravidão negra nas Américas ao longo do século XIX a partir de um conceito recente da historiografia, o da “segunda escravidão” – proposto em 1988 por Dale Tomich, um dos autores desta coletânea. Enquanto declinava ou era abolida em determinadas zonas do Novo Mundo, a partir do fim de determinadas colônias, da Revolução Industrial na Inglaterra e de sua consolidação como nação hegemônica na economia, a escravidão reflorescia no Sul dos Estados Unidos, em Cuba e no Brasil – áreas que se tornaram polos dinâmicos de uma nova e maciça expansão da escravidão africana.

O conceito da segunda escravidão surgiu de várias iniciativas de pesquisas e encontros internacionais sobre o tema. Esse livro é fruto desses movimentos e surgiu a partir de um seminário internacional promovido na Universidade de São Paulo em 2013. O evento procurou discutir como essas transformações nesses países citados suscitam questionamentos como a definição do conceito, seus quadros temporais e espaciais, suas relações com a reestruturação da economia-mundo capitalista no século XIX e a sua pertinência para as historiografias nacionais de Brasil, Estados Unidos e Cuba, além de para a História Atlântica e Global. Também tenta explicar os processos de abolição da escravidão nos Estados Unidos, Cuba e Brasil. O livro não traz respostas acabadas para essas questões. Ele tenta respondê-las de formas distintas e, por vezes, divergentes.

O livro está dividido em cinco capítulos. O de abertura, escrito por Robin Blackburn, traz uma síntese sobre a escravidão moderna e o lugar que o conceito de segunda escravidão pode ocupar nessa história. No capítulo seguinte, Dale Tomich critica os pressupostos teóricos e epistemológicos da New Economic History em seu tratamento da escravidão negra oitocentista. Seu objetivo é o de recuperar uma perspectiva substantiva de economia que permita articular de forma estreita a história econômica à história social e política da segunda escravidão. Os três capítulos seguintes, escritos por Rafael Marquese e Ricardo Salles (Brasil), José Antonio Piqueras (Cuba) e Edward E. Baptist (Estados Unidos), abordam as historiografias nacionais das regiões da segunda escravidão.


ORELHA:

Para os leitores brasileiros, a perspectiva continental que este livro imprime à análise do escravismo é fundamental por duas razões. Em primeiro lugar, os capítulos aqui apresentados equilibram e complementam a crescente tendência aos estudos de caso e de micro-história na área da história social e afro-brasileira. Em segundo lugar, os especialistas de diferentes países, que compõem o livro, abalizam o conceito de segunda escravidão no Brasil, em Cuba e nos Estados Unidos, evidenciando a particularidade do Brasil oitocentista, única nação independente que praticou com intensidade o tráfico negreiro e estendeu o escravismo até o termo do século XIX.
Durante o Império, os estudiosos brasileiros do escravismo e da transição para o trabalho livre cotejaram a legislação colonial europeia sobre as Antilhas e acompanharam os sobressaltos da política americana, antes e depois da Guerra de Secessão. Os trabalhos de Nabuco de Araújo e de Perdigão Malheiro, entre outros autores, portam a marca da perspectiva global que caracterizou a reflexão dos pensadores e legisladores brasileiros da segunda metade do século XIX. Por muito tempo, tal perspectiva – agora mais facilmente vislumbrada nos jornais oitocentistas do site da hemeroteca da Biblioteca Nacional – foi negligenciada pela maior parte da historiografia brasileira. Junto com outros renomados especialistas, Rafael Marquese e Ricardo Salles reinserem o escravismo brasileiro no contexto comparativo americano, trazendo uma importante contribuição para a historiografia do Brasil e do continente.
Luiz Felipe de Alencastro
Professor Emérito da Universidade de Paris-Sorbonne (Paris 4), professor da Escola de Economia de São Paulo (FGV)


SOBRE OS ORGANIZADORES:

Rafael Marquese é professor do Departamento de História da USP e coordenador do Laboratório de Estudos sobre o Brasil e o Sistema Mundial (Lab-Mundi--USP). Autor de Feitores do corpo, missionários da mente: Senhores, letrados e o controle dos escravos nas Américas, 1660-1860 (Companhia das Letras, 2004), e, em parceria com Márcia Berbel e Tâmis Parron, Escravidão e política: Brasil e Cuba, 1790-1850 (Hucitec, 2010).

Ricardo Salles é professor de História na Unirio, autor de Guerra do Paraguai: Escravidão e Cidadania na formação do Exército (Paz e Terra, 1990), Nostalgia imperial: escravidão e formação da identidade nacional no Brasil do Segundo Reinado (Ponteio, 2013, 2ª ed), Joaquim Nabuco, um pensador do Império (Topbooks, 2002) e E o vale era o escravo. Vassouras, século XIX: Senhores e escravos no coração do Império (Civilização Brasileira, 2008).

SOBRE OS AUTORES:

Edward E. Baptist é professor de História na Universidade Cornell, Estados Unidos. Coeditor do livro New Studies in the History of American Slavery (2006), é autor de Creating an Old South: Middle Florida’s Plantation Frontier Before the Civil War (The University of North Carolina Press, 2002) e The Half Has Never Been Told: Slavery and the Making of American Capitalism (Basic Books, 2014, a ser publicado pela Civilização Brasileira).

Dale Tomich é professor de História e Sociologia da Universidade de Binghamton, Estados Unidos, além de diretor do Fernand Braudel Center na mesma instituição. Autor de, entre outros, Slavery in the Circuit Sugar: Martinique in the World Economy (Johns Hopkins University Press, 1990), e Pelo prisma da escravidão. Trabalho, capital e a economia mundial (publicado pela Edusp em 2011).

José Antonio Piqueras é catedrático de História Contemporânea da Universitat Jaume I, Espanha. Autor de, entre outros, Pervivencias feudales y revolución democrática (1987), Agiotistas, negreros y partisanos (1991) (ambos em parceria com Enric Sebastià), La Revolución Democrática, 1868-1874 (1992), Cuba, empório y colónia (2003),Bicentenarios de Libertad (2010), e La Esclavitud en las Españas: un lazo transatlántico (2011).


Robin Blackburn é autor de A construção da escravidão do Novo Mundo e A queda do escravismo colonial (ambos publicados no Brasil pela Record), An Unfinished Revolution: Karl Marx and Abraham Lincoln (Verso, 2011), e The American Crucible: Slavery, Emancipation and Human Rights (Verso, 2011). Professor da Universidade de Essex, Grã-Bretanha, é membro do comitê editorial da New Left Review.

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