segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Marcelo Moutinho estreia na Record com “Ferrugem”

Imagem: Divulgação

No livro de contos, autor trata da corrosão do tempo sobre as coisas e as relações
O autor lança “Ferrugem” no dia 31 de janeiro, no Rio de Janeiro, na Travessa de Botafogo, a partir das 19h. Em São Paulo, a sessão de autógrafos acontece no dia 2 de fevereiro, na Livraria da Vila Fradique Coutinho, às 19h.


O dia a dia das cidades é um tema caro ao escritor Marcelo Moutinho, que estreia na Record com “Ferrugem”, livro de contos que chega às livrarias no fim de janeiro. Além das particularidades do cotidiano, os textos aqui têm algo mais em comum, que o título explica bem: as histórias de “Ferrugem” tratam da corrosão do tempo sobre as coisas e as relações.
Seus personagens são aparentemente pessoas comuns, mas inesquecíveis e envoltos em tramas com alta-voltagem poética, como escreve Alberto Mussa na orelha (leia o texto completo abaixo).
Há o menino que desejava ser jogador de futebol e acaba como gandula; uma mulher que aguarda um antigo amor numa praia; um casal que janta num restaurante sem trocar uma palavra; uma menina que visita o Maracanã pela primeira vez.  Encantamento e melancolia se encontram nas histórias, que exibem algumas das melhores características da tradição do conto brasileiro.

TRECHO:

“O Custódio nunca dorme. Não lê, nem ouve música. Logo que entra, bate um papo rápido comigo; depois, vai se sentar lá atrás. Os passageiros do 362 não variam muito. Tem um senhor de bigode com jeito de quem está para se aposentar. As duas moças que trabalham na Fiocruz e sobem juntas perto da Praça da Cruz Vermelha. Três ou quatro alunas de um cursinho lá pelas bandas da Praça XV. Essas são fáceis de identificar pelo uniforme. Saltam todo dia no Terminal Misericórdia. Uma vez por semana, vem a Dona Januária. Ela pega a condução para ir ao médico, o consultório fica na Avenida Marechal Câmara, ao lado do prédio da OAB.
Há mais ou menos um mês, numa segunda-feira, apareceu outra passageira que logo virou figurinha fácil. É uma menina mal saída dos vinte anos. Loira, mas de cabelo pintado, dá para notar. Sabe aquela beleza que não chama tanto a atenção? Pois é. No primeiro dia em que pegou o 362, saquei que o Custódio ficou de olho. Ela sentada no segundo banco, próxima a mim, e ele lá detrás filmando a garota.”


ORELHA:

“Quando li pela primeira vez os contos de Marcelo Moutinho,tive certomedo de que ele não conseguisse permanecer, como escritor. Era um momento em que a cena literária estava dominada pela onda, pela febre, pela doença do “novo”. A cada ano os preloscuspiam antologias e antologias de “novos” autores, carregadas de experimentalismos formais já quase seculares, da herança sentimental dos beatniks, da obsessão autopsicanalítica. E Moutinho remava vigorosamente contra toda aquela maré.
Tive, assim, uma alegria dupla ao receber os originais deste Ferrugem: a de ver renovada a tradição mais fértil do conto brasileiro, particularmente a da cena carioca e da linguagem lírica; e a de constatar que Moutinho se afirma, com uma voz singular e inconfundível.
O assunto de Ferrugem é a paisagem humana, os grandes dramas corriqueiros, a vida que passa.Desfilam pelos contos personagens ímpares, insuspeitas, inesquecíveis, ainda que aparentemente comuns: a moça soropositiva, caixa de supermercado, que reencontra o antigo namorado; a cobradora de ônibus que dá conselhos amorosos a um passageiro; o cantor de boate que imita Roberto Carlos; o professor de contabilidade que se aventura numa sauna masculina.
O valor literário destes contos não está em tramas surpreendentes ou inusitadas, mas na alta-voltagem poética que a voz do narrador consegue extrair de situações vulgares. Marcelo Moutinho é um excelente contista; e está aí para permanecer.” (Alberto Mussa)



Marcelo Moutinho nasceu no Rio de Janeiro, em 1972. É autor dos livros “Na dobra do dia”, “A palavra ausente”, “Somos todos iguais nesta noite”, todos pela Rocco, “Memória dos barcos” (7Letras) e do infantil “A menina que perdeu as cores” (Pallas). Organizou  antologias como “O meu lugar” (Mórula) e “Dicionário amoroso da Língua Portuguesa” (Casa da Palavra). Seus contos foram traduzidos para França, Alemanha, Estados Unidos e Argentina, entre outros países.


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