quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Da mesma autora do best-seller “O livro do destino”, “Escondi minha voz” retrata infância angustiante de um menino iraniano com dificuldade de se comunicar

Imagem: Divulgação


Adaptado para o cinema no Irã, romance da socióloga e psicóloga Parinoush Saniee tem como protagonista o pequeno Shahab, que com quatro anos ainda não pronunciou suas primeiras palavras

Em um país marcado pela opressão como o Irã, a expressão “ganhar voz” pode assumir um sentido quase literal. E é justamente o que acontece no novo romance de Parinoush Saniee, autora do best-seller “O livro do destino”, banido duas vezes pelo governo iraniano.  Se em seu primeiro livro a trama gira em torno de uma mulher e de suas duras experiências ao longo de décadas, agora, é um menino de apenas quatro anos que está no centro da história.

Aparentemente, Shahab não tem nenhum problema e os próprios médicos garantem que ele é saudável. Apesar disso, para preocupação da mãe e desgosto do pai, ele não fala.  Com um irmão obstinado em ser o primeiro da classe e uma irmã mais nova desinibida, o menino acaba sendo visto como o estranho da família e é chamado de tonto pelos tios e primos. Mesmo tendo um carinho enorme pela mãe, ele só se sente à vontade para conversar, secretamente, com dois amigos imaginários.

A história de Shahab começa a mudar quando sua avó materna passa algumas semanas com a família e desenvolve com o menino uma relação de confiança e cumplicidade. Aos poucos, ele se sente seguro para falar, começa a frequentar a escola e demonstra ter interesse especial pelas palavras escritas.

Narrado paralelamente por Shahab e por sua mãe, o livro mostra a luta de um menino sensível diante de sua incomunicabilidade com os outros, além dos desafios de ser mulher no Irã, sobretudo quando o roteiro da maternidade não ocorre como o planejado ou como a sociedade espera.

“Escondi minha voz” chega às livrarias no fim de janeiro pela Bertrand Brasil.

Trecho:

Como a sua mãe é tonta. Ele não é nosso pai, é pai de Arash. Como é possível que não entenda isso, justo ela que sabe falar e é tão esperta que intui o que queremos? Será que não entende que os filhos bons, saudáveis, bonitos e inteligentes são dos pais, e os burros, feios e doentes, que não sabem falar, são das mães?


Parinoush Saniee  foi funcionária do Ministério do Trabalho iraniano. “O livro do destino”, seu primeiro romance, foi traduzido para mais de 25 idiomas e venceu os prêmios Boccacio e Euskadi de Plata.

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