Imagem: Divulgação
O vencedor do Prêmio São Paulo de
Literatura de 2015 terá seus dois romances relançados pela editora, e prepara
um inédito para 2017
Apenas oito anos depois de
publicar seu primeiro romance, em 2008, o potiguar Estevão Azevedo já é dono de
uma reputação consistente e, seus livros, de honrarias importantes. Em 2015,
ele venceu o Prêmio São Paulo de Literatura com “Tempo de espalhar pedras”,
publicado pela Cosac Naify. Com o fim da editora, a Record trouxe a obra de
Estevão para seu catálogo e lançará, até o ano que vem, três títulos do autor.
O primeiro da lista chega às
livrarias em julho: é “Nunca o nome do menino”, romance de estreia de
Estevão, que também foi finalista do São Paulo de Literatura, na categoria
autor estreante, em 2009. Ainda em 2016, a Record publica uma nova edição de
“Tempo de espalhar pedras” e, em 2017, lança livro inédito do autor.
“Nunca o nome do menino”
acompanha a trajetória de uma mulher que acabou de descobrir ser personagem de
um livro. A partir daí, toma atitudes extremas para tentar desafiar (ou
sabotar) o autor. A trama se reveza entre os dilemas da personagem que se
descobre personagem – e faz isso costurando sutis referências literárias que
vão de Homero a Vinicius de Moraes, de Camus a Machado de Assis – e algumas de
suas histórias do passado, quando se apaixonou pelo tal menino do título.
Estevão constrói uma obra metaliterária que
não tem nada de hermética ou erudita, mas sim dialoga com o leitor e o e
provoca de maneira divertida e instigante. Esta nova edição foi revista pelo
autor, que escreveu um posfácio inédito. Você pode ler o texto no Blog da Record.
TRECHO:
“Os fatos de hoje tinham
pontos de partida traumáticos na infância, na relação com pai e mãe. Eu me
esforçava para lembrar, na esperança de ter realmente algum grande problema que
me possibilitasse e me obrigasse a seguir em frente. O analista, Sherazade às
avessas, escutava a cada sessão um elo dessa minha longa corrente de fábulas,
para que eu, a paciente, na ânsia de conhecer o próximo elo, não morresse. O
que todo mundo busca é o alívio de enfim virar narrativa. O que não sabem é que
eu, quando me vi em estado de pura escritura, quando descobri minhas veias como
longa escrita cursiva, meus olhos como puro adjetivo, meu sangue como nanquim,
minhas contradições, oximoros, meus poros, pontos finais, minha pele, metáfora,
e meu desejo, hipérbole, quando o momento máximo de autoconhecimento não foi
mais que uma peripécia, a angústia então foi tanta e tão intensa e tão
romântica que pela primeira vez desejei, mesmo sendo excessivamente feliz,
morrer.”
ORELHA:
nunca o nome do menino. Assim
mesmo: letras minúsculas sublinhando uma lacuna. Mais: prosa contrapontística
para melhor captar um dilema propriamente borgiano; afinal, como assegurar que
não somos meros sonhos de um criador que desconhecemos? Aliás, por que confiar
em sua existência?
Nesse caso, o universo bem pode
ser a biblioteca – como na cena joyciana que precipita a narrativa, cujo
desfecho homenageia Julio Cortázar. Este romance, no fundo, ata as pontas das
leituras do autor, cujo compasso estrutura a escrita.
Como se fosse um baixo contínuo
barroco, e com surpreendente habilidade para um romancista então estreante,
Estevão Azevedo sutilmente alinhava, em frases precisas, de Homero a Vinicius
de Moraes, passeando por Camus, João Cabral de Melo Neto, Eugene O’Neill,
Dante, Pirandello, Flaubert. E ainda outros, e muito mais, e em deliberada
desordem cronológica – claro está.
Sobretudo: Machado de Assis: de
Prudêncio a Capitu, passando por espelhos, negativas e dissimulações, com
destaque para o defunto autor.
Contudo, cuidado: são apenas
referências; você imaginará novas. O pacto proposto pelo texto não é erudito,
porém lúdico. Jogo cuja densidade se intensifica até a última pala (João
Cezar de Castro Rocha)
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