Imagem: Divulgação
Livro traz ensaios sobre “segunda escravidão” no Sul dos Estados
Unidos, no Brasil e em Cuba
Organizada pelos brasileiros Rafael Marquese e Ricardo Salles, obra
será lançada em julho pela Civilização Brasileira
Escravidão e capitalismo histórico no século XIX reúne ensaios de
historiadores brasileiros e estrangeiros sobre a escravidão negra nas Américas
ao longo do século XIX a partir de um conceito recente da historiografia, o da
“segunda escravidão” – proposto em 1988 por Dale Tomich, um dos autores desta coletânea.
Enquanto declinava ou era abolida em determinadas zonas do Novo Mundo, a partir
do fim de determinadas colônias, da Revolução Industrial na Inglaterra e de sua
consolidação como nação hegemônica na economia, a escravidão reflorescia no Sul
dos Estados Unidos, em Cuba e no Brasil – áreas que se tornaram polos dinâmicos
de uma nova e maciça expansão da escravidão africana.
O conceito da segunda escravidão surgiu de várias iniciativas de
pesquisas e encontros internacionais sobre o tema. Esse livro é fruto desses
movimentos e surgiu a partir de um seminário internacional promovido na
Universidade de São Paulo em 2013. O evento procurou discutir como essas
transformações nesses países citados suscitam questionamentos como a definição
do conceito, seus quadros temporais e espaciais, suas relações com a
reestruturação da economia-mundo capitalista no século XIX e a sua pertinência
para as historiografias nacionais de Brasil, Estados Unidos e Cuba, além de
para a História Atlântica e Global. Também tenta explicar os processos de
abolição da escravidão nos Estados Unidos, Cuba e Brasil. O livro não traz
respostas acabadas para essas questões. Ele tenta respondê-las de formas
distintas e, por vezes, divergentes.
O livro está dividido em cinco capítulos. O de abertura, escrito por
Robin Blackburn, traz uma síntese sobre a escravidão moderna e o lugar que o
conceito de segunda escravidão pode ocupar nessa história. No capítulo
seguinte, Dale Tomich critica os pressupostos teóricos e epistemológicos da New
Economic History em seu tratamento da escravidão negra oitocentista. Seu
objetivo é o de recuperar uma perspectiva substantiva de economia que permita
articular de forma estreita a história econômica à história social e política
da segunda escravidão. Os três capítulos seguintes, escritos por Rafael
Marquese e Ricardo Salles (Brasil), José Antonio Piqueras (Cuba) e Edward E.
Baptist (Estados Unidos), abordam as historiografias nacionais das regiões da
segunda escravidão.
ORELHA:
Para os leitores brasileiros, a perspectiva continental que este livro
imprime à análise do escravismo é fundamental por duas razões. Em primeiro
lugar, os capítulos aqui apresentados equilibram e complementam a crescente
tendência aos estudos de caso e de micro-história na área da história social e
afro-brasileira. Em segundo lugar, os especialistas de diferentes países, que
compõem o livro, abalizam o conceito de segunda escravidão no Brasil, em Cuba e
nos Estados Unidos, evidenciando a particularidade do Brasil oitocentista, única
nação independente que praticou com intensidade o tráfico negreiro e estendeu o
escravismo até o termo do século XIX.
Durante o Império, os estudiosos brasileiros do escravismo e da
transição para o trabalho livre cotejaram a legislação colonial europeia sobre
as Antilhas e acompanharam os sobressaltos da política americana, antes e
depois da Guerra de Secessão. Os trabalhos de Nabuco de Araújo e de Perdigão
Malheiro, entre outros autores, portam a marca da perspectiva global que
caracterizou a reflexão dos pensadores e legisladores brasileiros da segunda
metade do século XIX. Por muito tempo, tal perspectiva – agora mais facilmente
vislumbrada nos jornais oitocentistas do site da hemeroteca da Biblioteca
Nacional – foi negligenciada pela maior parte da historiografia brasileira.
Junto com outros renomados especialistas, Rafael Marquese e Ricardo Salles
reinserem o escravismo brasileiro no contexto comparativo americano, trazendo
uma importante contribuição para a historiografia do Brasil e do continente.
Luiz Felipe de Alencastro
Professor Emérito da Universidade de Paris-Sorbonne (Paris 4),
professor da Escola de Economia de São Paulo (FGV)
SOBRE OS ORGANIZADORES:
Rafael Marquese é professor do Departamento de História da USP e
coordenador do Laboratório de Estudos sobre o Brasil e o Sistema Mundial
(Lab-Mundi--USP). Autor de Feitores do corpo, missionários da mente:
Senhores, letrados e o controle dos escravos nas Américas, 1660-1860 (Companhia
das Letras, 2004), e, em parceria com Márcia Berbel e Tâmis Parron, Escravidão
e política: Brasil e Cuba, 1790-1850 (Hucitec, 2010).
Ricardo Salles é professor de História na Unirio, autor de Guerra
do Paraguai: Escravidão e Cidadania na formação do Exército (Paz e Terra,
1990), Nostalgia imperial: escravidão e formação da identidade nacional no
Brasil do Segundo Reinado (Ponteio, 2013, 2ª ed), Joaquim Nabuco, um
pensador do Império (Topbooks, 2002) e E o vale era o escravo.
Vassouras, século XIX: Senhores e escravos no coração do Império (Civilização
Brasileira, 2008).
SOBRE OS AUTORES:
Edward E. Baptist é professor de História na Universidade Cornell,
Estados Unidos. Coeditor do livro New Studies in the History of
American Slavery (2006), é autor de Creating an Old South: Middle
Florida’s Plantation Frontier Before the Civil War (The University of
North Carolina Press, 2002) e The Half Has Never Been Told: Slavery and
the Making of American Capitalism (Basic Books, 2014, a ser publicado pela
Civilização Brasileira).
Dale Tomich é professor de História e Sociologia da Universidade
de Binghamton, Estados Unidos, além de diretor do Fernand Braudel Center na
mesma instituição. Autor de, entre outros, Slavery in the Circuit Sugar:
Martinique in the World Economy (Johns Hopkins University Press, 1990), e Pelo
prisma da escravidão. Trabalho, capital e a economia mundial (publicado
pela Edusp em 2011).
José Antonio Piqueras é catedrático de História Contemporânea da
Universitat Jaume I, Espanha. Autor de, entre outros, Pervivencias
feudales y revolución democrática (1987), Agiotistas, negreros y
partisanos (1991) (ambos em parceria com Enric Sebastià), La
Revolución Democrática, 1868-1874 (1992), Cuba, empório y colónia (2003),Bicentenarios
de Libertad (2010), e La Esclavitud en las Españas: un lazo
transatlántico (2011).
Robin Blackburn é autor de A construção da escravidão do Novo
Mundo e A queda do escravismo colonial (ambos publicados no
Brasil pela Record), An Unfinished Revolution: Karl Marx and Abraham
Lincoln (Verso, 2011), e The American Crucible: Slavery, Emancipation
and Human Rights (Verso, 2011). Professor da Universidade de Essex,
Grã-Bretanha, é membro do comitê editorial da New Left Review.
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