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Em “A pequena guerreira”, best-seller publicado em dezenas de países, o
autor Giuseppe Catozzella descreve a vida de Samia em forma de diário
Por Sanny Bertoldo
Até onde alguém é capaz de ir por um sonho? Samia Yusuf Omar foi longe.
Mas não o suficiente para conseguir realizá-lo. Aos 21 anos, ela morreu afogada
no Mar Mediterrâneo quando tentava chegar à Itália em um barco clandestino.
Como tantos outros, arriscou-se em uma travessia desumana para fugir da
pobreza, da guerra e da perseguição religiosa em seu país de origem. Para a
jovem atleta, nascida em Mogadíscio, na Somália, a Europa era o pote de ouro no
fim do arco-íris, a única chance de disputar as Olimpíadas de Londres, em 2012.
Obstinada, Samia fez do atletismo seu objetivo de vida e, desde
criança, tinha certeza de que seria uma campeã. Inspirada por Mo Farah – filho
de pai britânico e mãe somali, ele conquistou o mundo ao se tornar campeão
olímpico e mundial dos 5.000 e 10.000 metros –, cuja fotografia carregou até o
fim da vida, como um amuleto, ela “determinou” que disputaria sua primeira
Olimpíada antes dos 18 anos.
Contra todos os prognósticos, chegou lá. Aos 16 anos, disputou os 100
metros rasos no Campeonato Africano de Atletismo. Aos 17, integrou a seleção
somali que participou dos Jogos de Pequim – 2008. Foi a última colocada nos 200
metros rasos, mas cruzou a linha de chegada aplaudida de pé pelo público que
lotou o Ninho do Pássaro, protagonizando um dos momentos mais marcantes daquela
Olimpíada.
É esta história que o italiano Giuseppe Catozzella conta no emocionante “A
pequena guerreira”. Com a ajuda de Hodan, irmã de Samia que vive em Helsinque,
na Finlândia, o autor conseguiu reconstituir a curta trajetória da mais jovem
de seis irmãos, filhos de um vendedor de roupas e uma dona de casa.
Em primeira pessoa, como se fosse Samia escrevendo um diário, ele
descortina a idolatria por Mo Farah, revela os treinos pelas ruas empoeiradas e
esburacadas de Bondere, onde moravam, o amor ao amigo Ali, que a trairia um
dia, a perda do pai, seu maior incentivador, a ascensão do grupo radical
islâmico al Shabab, que tornou a vida dos somalis ainda mais complicada, até a
difícil decisão de deixar seu país para tentar realizar o sonho de uma vida
inteira.
Foto: Divulgação
Giuseppe Catozzela escreve para La Repubblica, L’Espresso, Vanity
Fair e para a edição italiana do Financial Times. É autor ainda dos romances
Espianti e Alveare, adaptados para o cinema e o teatro. Com “A pequena
guerreira”, ganhou o Prêmio Strega Giovani em 2014. O livro também vai ganhar
versão cinematográfica.
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