Imagem: Divulgação
Adaptado para o cinema no Irã, romance da socióloga
e psicóloga Parinoush Saniee tem como protagonista o pequeno Shahab, que com
quatro anos ainda não pronunciou suas primeiras palavras
Em um país marcado pela opressão como o Irã, a
expressão “ganhar voz” pode assumir um sentido quase literal. E é justamente o
que acontece no novo romance de Parinoush Saniee, autora do best-seller “O
livro do destino”, banido duas vezes pelo governo iraniano. Se em seu
primeiro livro a trama gira em torno de uma mulher e de suas duras experiências
ao longo de décadas, agora, é um menino de apenas quatro anos que está no
centro da história.
Aparentemente, Shahab não tem nenhum problema e os
próprios médicos garantem que ele é saudável. Apesar disso, para preocupação da
mãe e desgosto do pai, ele não fala. Com um irmão obstinado em ser o
primeiro da classe e uma irmã mais nova desinibida, o menino acaba sendo visto
como o estranho da família e é chamado de tonto pelos tios e primos. Mesmo
tendo um carinho enorme pela mãe, ele só se sente à vontade para conversar,
secretamente, com dois amigos imaginários.
A história de Shahab começa a mudar quando sua avó
materna passa algumas semanas com a família e desenvolve com o menino uma
relação de confiança e cumplicidade. Aos poucos, ele se sente seguro para
falar, começa a frequentar a escola e demonstra ter interesse especial pelas
palavras escritas.
Narrado paralelamente por Shahab e por sua mãe, o
livro mostra a luta de um menino sensível diante de sua incomunicabilidade com
os outros, além dos desafios de ser mulher no Irã, sobretudo quando o roteiro
da maternidade não ocorre como o planejado ou como a sociedade espera.
“Escondi minha voz” chega às livrarias no fim
de janeiro pela Bertrand Brasil.
Trecho:
Como a sua mãe é tonta. Ele não é nosso pai, é pai
de Arash. Como é possível que não entenda isso, justo ela que sabe falar e é
tão esperta que intui o que queremos? Será que não entende que os filhos bons,
saudáveis, bonitos e inteligentes são dos pais, e os burros, feios e doentes,
que não sabem falar, são das mães?
Parinoush Saniee foi funcionária do
Ministério do Trabalho iraniano. “O livro do destino”, seu primeiro romance,
foi traduzido para mais de 25 idiomas e venceu os prêmios Boccacio e Euskadi de
Plata.
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