Imagem: Divulgação
Livro da jornalista Paula Dip, autora de “Para
sempre teu, Caio F”, apresenta as correspondências entre o escritor e a poetisa
entre os anos de 1970 e 1990
Durante sua pesquisa para o livro “Para
sempre teu, Caio F”, a escritora e jornalista Paula Dip conheceu um poeta
baiano que guardava um pacote de cartas que Caio Fernando Abreu enviou a Hilda
Hilst entre os anos de 1971 e 1990. Eram inéditas. Algumas ainda em envelopes
selados, escritas à mão. Outras datilografadas na sua máquina de escrever
portátil, carinhosamente chamada de Virginia Woolf.
O conteúdo das correspondências, que revela
a grande amizade e o verdadeiro caso de amor literário entre Caio e Hilda,
permite revisitar a juventude de Caio e voltar à lendária Casa do Sol,
residência que a poetisa construiu em Campinas, onde o escritor morou durante o
ano de 1969.
“As cartas ardiam em minhas mãos, tão
preciosas que considerei estudá-las num curso de mestrado, mas venceu o desejo
de editar um novo volume das cartas do meu amigo. Dividi-las com seu público,
como ele queria”, conta Paula no prólogo do livro. Caio registrava nas cartas
seu dia a dia, seus conflitos internos, chamados por ele de “mergulho no mais
de fundo de mim”.
“Numa hora assim escura” é uma reunião de
cartas repletas de expressão e a transcrição do laço entre dois grandes
escritores, apresentado por Paula com incrível sensibilidade.
Orelha por Italo Moriconi (Professor, escritor
e curador literário)
A paixão é o que define a relação entre Paula Dip e
Caio Fernando Abreu. Como evitar que aflore a intensidade escura (e ao mesmo
tempo luminosa) da paixão, quando se trata de reler e de evocar Caio Fernando
Abreu?
Este livro é mais um marco no encontro entre a obra
de Caio F. e sucessivas gerações de amantes da literatura brasileira. Ele que
foi talvez o mais representativo prosador da geração pop-contracultural das
últimas três décadas do século passado. O “biógrafo de emoções”. Sua obra,
painel heterogêneo, composta por contos, romances, textos para o teatro, além
das crônicas que fizeram história e... das cartas. Já não se discute o valor
literário destas últimas.
Quanta riqueza de expressão neste conjunto endereçado
a Hilda Hilst, que Paula nos apresenta com a sensibilidade de sempre. E quanta
informação sobre a vida literária do período. Até aqui inédito, o conjunto não
só amplia a visão que tínhamos do conteúdo literário da amizade que unia Caio e
Hilda Hilst, como também alarga o conhecimento dos detalhes afetivos dessa
relação. São marcantes as cartas mais recentes mostradas por Paula, dos
anos 1990, evidenciando que os laços entre esses dois grandes escritores se
mantiveram por toda a vida.
No texto de Paula Dip, tudo vem revestido de cuidado e atenção. Sobretudo vemos
desenhar-se diante de nós a geografia afetiva da Casa do Sol, a residência de
Hilda Hilst que constituiu como que um autêntico cenáculo pós-moderno de
escritores, artistas, intelectuais em nosso último fim de século. Compartilhar
o espaço e toda a mística que envolvia a Casa do Sol foi sem dúvida o momento
do batismo de fogo de Caio Fernando Abreu como ficcionista de primeira
grandeza.
Trecho:
“Na praia, vou me esforçar para conseguir novamente
entrar em contato com a natureza e comigo mesmo, e através disso alcançar Deus
outra vez. Se eu conseguir, a batalha estará ganha, a crise superada, eu terei
sobrevivido, darei uma de Fênix e ressurgirei das próprias cinzas; caso contrário,
eu não terei me enganado, a vida é realmente suja demais para ser vivida e eu
não me poluirei. Isso é o que eu sei a meu respeito. Se houver uma chance
de viver sem sujeira, eu a agarrarei com todas as forças. Não sei, realmente
não sei, por favor me escreva, estou muito sozinho, meus pais fizeram todo o
possível para que eu me convencesse de que sou uma pessoa má e desprezível, por
favor não deixe de me escrever, eu acredito demais em você, no que você
escreveu, no que você viveu, no que você foi e é, você a única pessoa a quem eu
recorreria numa hora assim escura, e é o que estou fazendo. Um abraço
para o Dante e o Zé, desejo um Natal feliz e um novo ano cheio de coisas boas,
ou pelo menos melhores que as deste maldito 71 ( que eu sei, foi também terrível
para vocês) Um grande beijo do seu, Caio.
Paula Dip é autora de Para sempre teu Caio F.
cartas, conversas, memórias de Caio Fernando Abreu, publicado 2009 e adaptado
para o cinema em 2014.
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