Imagem: Divulgação
Karla Pessôa (Karla Pê), diretora de arte, cenógrafa, figurinista e
fotógrafa, ganhou um nome de peso para assinar a curadoria da exposição
“Tessituras – Tramas de som e luz”: a museóloga e gestora do sistema de museus
do Paraná Karina Muniz Viana aceitou o convite e a expo será inaugurada no dia
08 de abril no Parque das Ruínas – RJ. A exposição, composta por autorretratos
impressos em grande formato, resulta de intensa pesquisa de luz, som e suas
intervenções sobre o corpo e a cena. A exposição conta com trilha sonora
exclusiva composta pelo premiado músico Ivo Senra.
Karina Muniz Viana
‘Tessituras’ trata de questões íntimas da artista, mas que se desdobram
em questões contemporâneas num tempo de exposição maciça e falta de reflexão.
Nas palavras da curadora: “Pessôa, à frente de seu tempo, transmite em imagens
‘sensíveis’ o que o inconsciente humano desenha e movimenta aleatoriamente, em
um jogo continuado de formas e sensações. Como navalha que rompe, penetra e
liberta, sua produção trouxe aos nossos olhos um manifesto de clamor à
libertação pragmática”.
O processo de construção das imagens contou com a presença da curadora,
que após concluído, seguiu para as mãos do compositor Ivo Senra. A trilha
sonora original é parte fundamental da exposição: sem ela, as imagens impressas
e as cronofotografias perderiam toda sua potência. Karla Pessôa atua há mais de
18 anos no meio cultural e sua ligação com a música é muito forte, tendo
trabalhado como figurinista, cenógrafa, diretora de arte e fotógrafa com
artistas dos mais variados estilos como Isabella Taviani, Bianca Gismonti,
Thiago Amud e Mariana Baltar. Dessa vivência intensa com a música veio a
necessidade de embalar suas imagens com uma trilha exclusiva, pensada para a
exposição sob encomenda.
As obras
Quinze painéis, em tecido sintético Flag, com 1,50m x 3,00m, perfilados
e sustentados no teto da galeria que induzem o espectador a percorrer seu
interior e assim interagir sensorialmente com as imagens. Na lateral da
galeria, três projeções simultâneas de cronofotografias do processo de criação.
A trilha se faz presente não como mera coadjuvante, mas se apoiando no mesmo
degrau que as obras – quatro caixas e um subwoofer fornecem o peso exato da
massa sonora que envolve toda a exposição.
Karla Pessôa
Mais conhecida no meio artístico como Karla Pê é formada em Belas
Artes, pela UFRJ, e em design, pela UESA. Idealizadora da empresa Mais e
Melhores, onde atua como fotógrafa, figurinista, cenógrafa e diretora de arte.
Na área musical, desenvolveu projetos de cenários e figurinos para Isabella
Taviani, Mariana Baltar, Duo Gisbranco (tour nacional e internacional),
PianOrquestra como figurinista/cenógrafa (tour nacional e internacional),
Dorina, Bianca Gismonti e Thiago Amud. Para TV, criou figurino para o programa
“Som Brasil” (Mariana Baltar), a microssérie “Capitu” (personagem José Dias), o
clipe das músicas “Serra do Céu” (Duo Gisbranco) e “Presente Passado” (Isabella
Taviani) e peças avulsas para a novela “Lado a Lado”. No teatro, elaborou
cenários e figurinos para a peça “JUMBO - Eu visito a tua ausência” (direção de
Joana Lebreiro) e “Histórias de Alexandre” (direção de Antônio Karnewale). Em
dança, trabalhou para a Cia. Márcia Lacombe, Uniarte Cia. Em 2012 ganhou o
prêmio de Melhor Figurino no Festival Nacional de Dança Darcy Porto. Em 2013 e
2014 criou a cenografia para o Festival MIMO (Paraty, Ouro Preto, Olinda e
Tiradentes) e assinou a produção de arte da exposição "Virei Viral"
no CCBB-RJ. Criou o projeto expográfico para a mostra "Espectros
Contemporâneos" dentro do Festival Sesc de Inverno (Sesc Nova Friburgo) e
para a mostra "Clube do Jazz e Bossa" (Sesc NOva Friburgo) em 2013; e
para a mostra "Grafite em Movimento", também para o Festival Sesc de
Inverno (Sesc Nova Friburgo e Quitandinha) em 2014. Em 2016 assinou a direção
de arte do programa “Onde anda a canção?” e da revista “Acorde!”. Em 2017,
assinou o projeto expográfico para a mostra Palavra Líquida – traço e questão
de gênero” no Sesc Tijuca.
A curadoria
Karina Muniz Viana, mineira de Pouso Alegre é Museóloga dedicada à
gestão de museus desde 2004. Graduou-se em Gravura pela Escola de Música e
Belas Artes do Paraná em 2007, onde teve a oportunidade de estudar História da
Arte e Fotografia. Foi responsável pelo inventário da obra gráfica e pictórica
de Uiara Bartira e Paul Garfunkel. Assinou a curadoria da exposição de Bartira
- Conciliar - realizada no Museu de Arte Contemporânea do Paraná - MAC PR, em
2012. No ambiente dos museus, explora as novas tecnologias da informação e
comunicação e o empoderamento do indivíduo globalizado frente ao ciberespaço.
De pronto aceitou o convite da artista para assinar a curadoria e
mergulhou no processo com olhar aguçado e observações pertinentes. Assinou o
texto que se segue apresentando a exposição:
““Precisávamos abrir todas as portas da irracionalidade e manter apenas
as imagens que nos surpreendiam, sem tentarmos explicar por quê”.
Luis Buñuel
A cena mais inquietante do cinema surrealista trata-se do momento em
que uma navalha penetra o globo ocular de uma mulher, na produção de 1929 de
Luis Buñuel e Salvador Dali – Un chien andalou –. O filme oferece a ilusão de
uma narrativa, iniciando com a mais simples e infantilizada de todas as
invocações de uma estória: “Era uma vez”. Mas o que os autores buscavam era uma
descronologia arbitrária e sem sentido.
São fluxos de imagens subversivas, para alcançar o objetivo de seu
desejo, um homem precisa puxar arreios presos a dois padres e dois pianos de
cauda, cada qual com um jumento morto em cima. São imagens transgressoras do
pensamento: Buñuel e Dalí exprimiam em suas produções o pensamento desorientado
e livre de qualquer filtro cognitivo. Uma liberdade da construção imaginativa
do indivíduo, onde não há ‘fato’ nem ‘ordem’, nem ‘sentido’ ou ‘lógica’. O
pensamento é livre e atinge o desejo do corpo: o corpo, sim, é ferramenta do
pensamento. A sexualidade aflorando nessa busca relacional com o meio, o homem
de Buñuel e Dalí acaricia a figura feminina coberta de tecidos, mas no seu
desejo a desnuda, em uma transposição do imaginário para o real. Imagens e inconsciente
se manifestam no suporte cinematográfico, é a materialização do imaginário por
intermédio da imagem em movimento.
Roland Barthes, em seu ensaio crítico “A câmara clara” (1984), ao
narrar sua experiência ao ser fotografado, ou seja, ter sua imagem capturada
pela objetiva aponta para a presença de quatro planos imaginários que se
cruzam, aí se afrontam e se deformam. É o encontro de seus vários eus – e sobre
eles o autor comenta que “Diante da objetiva, sou ao mesmo tempo: aquele
que eu me julgo, aquele que eu gostaria que me julgassem, aquele que o
fotógrafo me julga e aquele de que ele se serve para exibir sua arte. Em outras
palavras, ato curioso: não paro de me imitar, e é por isso que, cada vez que me
faço (que me deixo) fotografar, sou infalivelmente tocado por uma sensação de
inautenticidade, às vezes de impostura (como certos pesadelos podem
proporcionar). Imaginariamente, a Fotografia (aquela de que tenho a intenção)
representa esse momento muito sutil em que, para dizer a verdade, não sou nem
um sujeito nem um objeto, mas antes um sujeito que se sente tornar-se objeto:
vivo então uma microexistência da morte: torno-me verdadeiramente espectro.
(...) mas quando me descubro no produto dessa operação, o que vejo é que me
tornei Todo-Imagem, isto é, a Morte em pessoa; os outros – o Outro –
desapropriam-me de mim mesmo, fazem de mim, com ferocidade, um objeto,
mantêm-me à mercê, à disposição, arrumando em um fichário, preparado para todas
as trucagens sutis (BARTHES, 1984)”.
Barthes apresenta o decalque de sua imagem como uma leitura de pesar,
de um luto recente – “por uma vez a Fotografia me devolvia a mim mesmo” (1984).
Essa experiência se deu certa vez em que foi fotografado e, tempos depois,
deparou-se com seu retrato estampado em um panfleto de grande tiragem. A partir
da vivência da reprodutividade da sua imagem, o autor desabafa: “em virtude do
artifício de uma tiragem, eu tive apenas uma horrível face desinteriorizada,
sinistra e rebarbativa, como uma imagem de minha linguagem que os autores do
livro queriam transmitir” (1984). Ao referir que sua imagem foi reapropriada
pelos autores do panfleto e assumindo outro significado, outro contexto,
Barthes aponta para a reverberação da informação visual: sua imagem não mais lhe
pertence, agora é do mundo e para o mundo, seu estado assume o papel de
diferentes interpretações e apropriações.
A imagem, assim parece, desconfia do sentido puro: ela quer sentido,
mas ao mesmo tempo quer que esse sentido seja cercado de um ruído que o faça
menos agudo. Assim, a foto cujo sentido, não o efeito, causa muita impressão é
logo desviada; é consumida esteticamente. A máscara é, no entanto, a região
difícil da Fotografia.
A fotógrafa, Karla Pessôa rompe a moral individual penetrando em um universo
desconexo, um surrealismo visceral. Ela se liberta de uma trama quente e
excitante, porém sufocante e inibidora dos sentidos. Assim como Buñuel, que
expele insetos da pele humana num grito de libertação das pragas do mundo
impregnadas na mente, Pessôa expele a si mesma de um casulo frágil e
artificial. É seu grito, seu gozo.
Romper: um movimento de libertação, quebrar, transpor. Pessôa, à frente
de seu tempo, transmite em imagens ‘sensíveis’ o que o inconsciente humano
desenha e movimenta aleatoriamente, em um jogo continuado de formas e
sensações. Como navalha que rompe, penetra e liberta, sua produção trouxe aos
nossos olhos um manifesto de clamor à libertação pragmática.
Pessoa são muitas.
Sua produção corporal e imagética busca as muitas vozes que gritam para
se encontrarem. Apresenta o concreto que representa ou o que representa o
concreto, trazendo para o espectador a responsabilidade por mapear seus “eus”,
que os levam a se projetarem para o meio em um processo de reverberação no
suporte fotográfico, o tecido e a imagem.
O processo de reconhecimento destes “eus” passa a integrar uma malha
imagética. O corpo torna-se a primeira camada destas práticas, uma espécie de
brincadeira coletiva com o próprio corpo. Expor suas anomalias ou exaltar o belo,
narrar suas angústias ou suas conquistas, agredir moralmente ou defender uma
causa local/global, tornam-se ações incorporadas às suas experiência
cotidianas.
Pessoa são muitas. Sou eu. É você.”
A trilha sonora
A trilha se apoia na fusão do jazz contemporâneo (John Zorn) com o uso
de sintetizador influenciado pela música eletrônica alemã (Stockhausen). O som
tem uma relação direta com a espacialidade do trabalho da artista e com a
textura amórfica e misteriosa de suas fotografias. Assim, a força libertadora
sugerida pelas imagens está presente em toda a trilha - nas palavras do
compositor: “mostrando algo que quer/precisa ser mostrado”.
Ivo Senra, pianista, sintesista, tecladista, compositor, arranjador e
professor é Bacharel em composição pela UFRJ, formado em piano erudito e
popular desde os 6 anos de idade. Profissionalmente já acompanhou, gravou e
dividiu palcos com artistas como: Ney Matogrosso, Pery Ribeiro, Seu Jorge,
Itaal Schur, Yamandu Costa, Zé Paulo Becker, entre outros. Como produtor musical
venceu o 23° prêmio da música brasileira na categoria música eletrônica,
participou como produtor convidado no disco de comemoração aos 35 anos de
carreira de Elba Ramalho, foi diretor musical no concerto de encerramento da
XXI Bienal de música contemporânea, do Coletivo Chama. Produziu várias trilhas
entre peças, curtas e comerciais.
Ficha Técnica
Curadoria
Karina Muniz Viana
Trilha sonora original
Ivo Senra
Iluminação
Djalma Amaral
Projeto expográfico
Djalma Amaral e Karla Pê
Direção de produção
Paulo Almeida
Produção executiva
Ruth Fleury
Assistente de produção
Leo Lousa
Cenotécnico
Beto Silva
Assessoria de imprensa
Mais e Melhores Produções
Sonorização
Sergio Manso
Karina Muniz Viana
Trilha sonora original
Ivo Senra
Iluminação
Djalma Amaral
Projeto expográfico
Djalma Amaral e Karla Pê
Direção de produção
Paulo Almeida
Produção executiva
Ruth Fleury
Assistente de produção
Leo Lousa
Cenotécnico
Beto Silva
Assessoria de imprensa
Mais e Melhores Produções
Sonorização
Sergio Manso
Serviço
Tessituras – tramas de som e luz
Por Karla Pessôa
Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas
Rua Murtinho Nobre, 169 - Santa Teresa
Telefones: 21 2215-0621 | 21 2224-3922
De 08 de abril a 14 de maio de 2017
Visitação: Terça a domingo, das 10h às 18h.
Rua Murtinho Nobre, 169 - Santa Teresa
Telefones: 21 2215-0621 | 21 2224-3922
De 08 de abril a 14 de maio de 2017
Visitação: Terça a domingo, das 10h às 18h.
Entrada gratuita
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