quinta-feira, 30 de março de 2017

Os destaques do Paris Fashion Week 2017


Em tempos marcados pela efemeridade e instabilidade, a semana de moda de Paris possibilitou um resgate às origens, símbolo único de cuidado e proteção

Os principais desfiles das marcas que participaram da semana de moda de Paris, contaram com traços desagradáveis de regresso a uma época aonde a felicidade não era apenas uma lembrança. Segundo a especialista no mercado de luxo, Carolina Boari, o espetáculo da semana de moda de Paris foi marcado por simbolismos, trazendo em si mesmo o espírito do tempo em alemão (Zeitgeist). Confira os principais destaques das marcas luxuosas no Paris Fashion Week!

A coleção de Stella McCartney foi apresentada com modelos cantando Faith (Fé), música de George Michael e a icônica canção dos Beatles, All You Need is Love (tudo o que você precisa é amor). A mensagem foi clara durante o desfile que tentou resgatar um pouco de esperança, enfatizando que o amor é a principal ‘arma’ contra o mal. Uma das marcas mais renomadas de luxo, Hermès, utilizou sua própria história na coleção, tendo como inspiração os aventais de seus artesãos.

A maison desfilou uma série de peças feitas em tricô, o que remeteu à lembrança dos avós, da época da infância, memória confirmada pelos casacos de pelúcia e uso de cores fortes e marcantes, como o roxo, na qual a simbologia representa experiência e está ligada ao pensamento abstrato. A Miu Miu, marca de Miuccua Prada apresentou um desfile carregado de escapismo, com destaque para peças adornadas com pelos, um material que remete a aconchego, abraço e acolhimento.

O estilista Alexander McQueen, conceituado por um estilo transgressor, apresentou uma proposta que transitou entre as tradições ancestrais e a rebeldia durante o desfile. A Louis Vuitton utilizou o átrio central do museu do Louvre para exibir sua coleção, resgatando a tradição e o culto aos valores franceses. O palácio do Louvre, antiga fortaleza medieval e primeira residência da monarquia do país, foi transformado em museu após a Revolução Francesa com a alternativa de albergar pinturas, esculturas e a arte de todos os povos. ”Neste caso, a marca usou uma estratégia de conferir uma aura de superioridade aos produtos que exibem a etiqueta made in france”, comenta a especialista Carolina Boari.

Além da moda, a Louis Vuitton, exaltou o orgulho nacional e todos os aspectos de refinamento da nação berço da marca. “Utilizar o Louvre como cenário de um desfile de moda foi uma maneira de comunicar o multiculturalismo da França, um dos países mais procurados por refugiados e constante alvo de ataques terroristas, além da globalização da própria Vuitton”, explica Carolina.

A Chanel propôs uma fuga ao passado, adotando um visual da década de 60 e a conquista do universo. Ao contrário das demais marcas, que buscaram refúgio em tempos remotos, adotou o futuro como tema de seu desfile, no Grand Palais, outro símbolo arquitetônico de Paris. Karl Lagerfeld, estilista da maison, utilizou materiais que remetem a astronautas como, por exemplo, o uso da cor prata, botas com glitter e pérolas bordadas em casacos para dar o aspecto de céu estrelado e colocou um foguete na passarela, criando um clima de paralelismo entre as recordações de um tempo que não voltará e outro que está para acontecer.

Moda nas ruas

Nas ruas de Paris, durante o período da fashion week, as pessoas exibiam uma tendência conhecida como hygge, expressão dinamarquesa que pode ser entendida como acolhimento e aconchego. Muito mais do que uma expressão, hygee significa sentar em frente a uma lareira em uma noite fria, com um confortável pulôver de lã, uma caneca de vinho quente, fazendo carinho em seu cachorro. “Enquanto o medo, as incertezas, o encontro com real são marcantes no momento atual europeu, a tendência dinamarquesa propõe uma viagem interior, o acolhimento do lar, uma maior individualidade e isolamento”, analisa a especialista no mercado de luxo. 

O designer Riccardo Tisci deixou seu posto criativo e selecionou 27 peças que marcaram os 12 anos de gestão do estilista e adicionou a cor vermelha em cada uma delas. A campanha publicitária da marca utilizou como tema uma viagem interior, voyage interieur, apresentada aos acordes da música homônima, de Michael Mayer. Modelos de nomes poucos conhecidos, caminharam em areias levadas pelo vento. “O Paris Fashion Week incorporou os sintomas da sociedade europeia contemporânea. De um lado o indivíduo, vivenciando um período de medo, insegurança e frustração, buscando uma nova realidade, uma fuga para um lugar que proporcione acolhimento que possibilitou um resgate às origens, uma forma de regressar ao ventre materno, símbolo único de cuidado e proteção da França”, conclui Carolina Boari.
Mais sobre Carolina Boari

Pesquisadora do mercado de luxo. Trabalha na divulgação de tendências nacionais e internacionais da área. Com larga experiência internacional, Carolina traz informações sobre o mercado do luxo para quem deseja estar por dentro das novidades e inovações e possui conhecimento em comunicação do mercado de luxo e o consumidor, com ênfase em teoria semiótica para análise de campanhas publicitárias, lojas, produtos, ações de marketing especificas desse setor. 

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