Em tempos
marcados pela efemeridade e instabilidade, a semana de moda de Paris
possibilitou um resgate às origens, símbolo único de cuidado e proteção
Os principais
desfiles das marcas que participaram da semana de moda de Paris, contaram com
traços desagradáveis de regresso a uma época aonde a felicidade não era apenas
uma lembrança. Segundo a especialista no mercado de luxo, Carolina Boari,
o espetáculo da semana de moda de Paris foi marcado por simbolismos, trazendo
em si mesmo o espírito do tempo em alemão (Zeitgeist). Confira os
principais destaques das marcas luxuosas no Paris Fashion Week!
A coleção de Stella McCartney foi apresentada com modelos cantando Faith (Fé), música de George Michael e a icônica canção dos Beatles, All You Need is Love (tudo o que você precisa é amor). A mensagem foi clara durante o desfile que tentou resgatar um pouco de esperança, enfatizando que o amor é a principal ‘arma’ contra o mal. Uma das marcas mais renomadas de luxo, Hermès, utilizou sua própria história na coleção, tendo como inspiração os aventais de seus artesãos.
A maison desfilou
uma série de peças feitas em tricô, o que remeteu à lembrança dos avós, da época
da infância, memória confirmada pelos casacos de pelúcia e uso de cores fortes
e marcantes, como o roxo, na qual a simbologia representa experiência e está
ligada ao pensamento abstrato. A Miu Miu, marca de Miuccua Prada apresentou um
desfile carregado de escapismo, com destaque para peças adornadas com pelos, um
material que remete a aconchego, abraço e acolhimento.
O estilista
Alexander McQueen, conceituado por um estilo transgressor, apresentou uma
proposta que transitou entre as tradições ancestrais e a rebeldia durante o
desfile. A Louis Vuitton utilizou o átrio central do museu do Louvre para
exibir sua coleção, resgatando a tradição e o culto aos valores franceses. O
palácio do Louvre, antiga fortaleza medieval e primeira residência da monarquia
do país, foi transformado em museu após a Revolução Francesa com a alternativa
de albergar pinturas, esculturas e a arte de todos os povos. ”Neste caso,
a marca usou uma estratégia de conferir uma aura de superioridade aos produtos
que exibem a etiqueta made in france”, comenta a especialista Carolina
Boari.
Além da moda,
a Louis Vuitton, exaltou o orgulho nacional e todos os aspectos de refinamento
da nação berço da marca. “Utilizar o Louvre como cenário de um desfile de
moda foi uma maneira de comunicar o multiculturalismo da França, um dos países
mais procurados por refugiados e constante alvo de ataques terroristas, além da
globalização da própria Vuitton”, explica Carolina.
A Chanel
propôs uma fuga ao passado, adotando um visual da década de 60 e a conquista do
universo. Ao contrário das demais marcas, que buscaram refúgio em tempos
remotos, adotou o futuro como tema de seu desfile, no Grand Palais, outro
símbolo arquitetônico de Paris. Karl Lagerfeld, estilista da maison,
utilizou materiais que remetem a astronautas como, por exemplo, o uso da cor
prata, botas com glitter e pérolas bordadas em casacos para dar o aspecto de
céu estrelado e colocou um foguete na passarela, criando um clima de
paralelismo entre as recordações de um tempo que não voltará e outro que está
para acontecer.
Moda nas ruas
Nas ruas de
Paris, durante o período da fashion week, as pessoas exibiam uma tendência
conhecida como hygge, expressão dinamarquesa que pode ser entendida como
acolhimento e aconchego. Muito mais do que uma expressão, hygee significa sentar
em frente a uma lareira em uma noite fria, com um confortável pulôver de
lã, uma caneca de vinho quente, fazendo carinho em seu cachorro. “Enquanto o
medo, as incertezas, o encontro com real são marcantes no momento atual
europeu, a tendência dinamarquesa propõe uma viagem interior, o acolhimento do
lar, uma maior individualidade e isolamento”, analisa a especialista no
mercado de luxo.
O designer
Riccardo Tisci deixou seu posto criativo e selecionou 27 peças que marcaram os
12 anos de gestão do estilista e adicionou a cor vermelha em cada uma delas. A
campanha publicitária da marca utilizou como tema uma viagem interior, voyage
interieur, apresentada aos acordes da música homônima, de Michael Mayer.
Modelos de nomes poucos conhecidos, caminharam em areias levadas pelo
vento. “O Paris Fashion Week incorporou os sintomas da sociedade europeia
contemporânea. De um lado o indivíduo, vivenciando um período de medo,
insegurança e frustração, buscando uma nova realidade, uma fuga para um lugar
que proporcione acolhimento que possibilitou um resgate às origens, uma forma
de regressar ao ventre materno, símbolo único de cuidado e proteção da França”, conclui
Carolina Boari.
Mais sobre
Carolina Boari
Pesquisadora
do mercado de luxo. Trabalha na divulgação de tendências nacionais e
internacionais da área. Com larga experiência internacional, Carolina traz
informações sobre o mercado do luxo para quem deseja estar por dentro das
novidades e inovações e possui conhecimento em comunicação do mercado de luxo e
o consumidor, com ênfase em teoria semiótica para análise de campanhas
publicitárias, lojas, produtos, ações de marketing especificas desse setor.
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